quarta-feira, 23 de maio de 2012

Encontro em Natal: "Ayahuasca, Ciência e Pesquisa. Desafios e Perspectivas"

Apresentações:

A Ayahuasca em um Contexto Global: Controvérsias, Debate Público e Regulamentação
Beatriz Caiuby Labate

Esta apresentação trata da internacionalização da ayahuasca. Nos últimos 20 anos, seu uso espalhou-se para além do mundo amazônico e isto tem sido acompanhado de grande controvérsia. Esta apresentação analisará o debate público a respeito da expansão do uso desta substância. Focalizará as discussões na mídia e na sociedade sobre a legalização, a liberdade religiosa, a diversidade cultural e os riscos à saúde. Esta análise utiliza trabalho de campo etnográfico nos principais novos contextos do uso desta substância, tais como o turismo da ayahuasca no Peru e a expansão das religiões ayahuasqueiras brasileiras – o Santo Daime e a União do Vegetal – em todo o mundo.


Reflexões para uma agenda de pesquisas biomédicas no campo da ayahuasca
Luís Fernando Tófoli

A pesquisa biomédica é uma entre as diversas vertentes do campo de estudos interdisciplinar da ayahuasca. A interpretação dos resultados biomédicos nesse campo geralmente tende para um viés positivo, e aponta para uma considerável segurança no uso desta decocção com propriedades psicodélicas, desde que alguns cuidados sejam tomados. Ainda que a pouca evidência de danos maiores aos consumidores regulares de ayahuasca possa ter tido um papel em não obstar a institucionalização deste psicoativo nos países onde seu uso foi regulamentado, é provável que valores políticos ou socioculturais tenham tido peso majoritário nas tomadas de decisão em diversos destes cenários, tal como foi o caso no Brasil. Entretanto, por outro lado, o conjunto de achados biomédicos sobre o consumo da ayahuasca é interpretado de forma cética por aqueles que ressaltam não haver absoluta ausência de risco à saúde neste consumo. Embora a suposta imparcialidade das biociências seja uma ficção, e a interpretação dos resultados das pesquisas científicas esteja condicionada a determinadas visões de mundo, algumas questões demandam mais evidências biomédicas. Baseada na análise da literatura científica e na experiência anedótica do autor com a ayahuasca, esta apresentação visa a discutir e apontar alguns caminhos com potencial de desenvolvimento da pesquisa biomédica no campo da ayahuasca. Espera-se assim contribuir para a resolução de alguns dilemas presentes no universo biomédico ayahuasqueiro, tais como: o uso por grávidas, crianças e adolescentes; interações com medicamentos; e efeitos positivos em transtornos mentais comuns e no uso problemático de substâncias, entre outros.

Reflexões sobre o estado da arte da pesquisa em neurociências sobre a ayahuasca no Brasil: A experiência do Instituto do Cérebro
Dráulio Barros de Araújo

Esta apresentação será focada sobre a nossa experiência de investigação dos aspectos que envolvem a combinação Ayahuasca e Neurociências. Apesar do grande o número de estudos existentes sobre a Ayahuasca, a maioria se concentra em aspectos farmacológicos e antropológicos. Apenas recentemente, começaram a surgir pesquisas focando no entendimento das alterações cognitivas induzidas pela ingestão da Ayahuasca em particular pela utilização de técnicas de neuroimagem. Entre as técnicas de neuroimagem funcional, cabe destaque para a ressonância magnética funcional (do inglês, functional Magnetic Resonance Imaging – fMRI), que tem sido largamente utilizada em diversos estudos sobre as bases neurais da percepção, cognição e emoção. Baseado nessa técnica, temos iniciado uma série de estudos que buscam melhor entender as bases neurofisiológicas das complexas alterações induzidas pela Ayahuasca, dentre as quais destacamos as experiências visuais e de interocepção. Além do cenário atual daremos destaque às perspectivas de estudos nessa área pelo nosso grupo.http://www.blogger.com/img/blank.gif

Dia: 15 de junho de 2012
Horário: 14:00hs – 17:00hs
Local: Instituto do Cérebro da UFRN (ICe)
Av. Nascimento de Castro, 2155 - Natal, RN
Telefone: 84 3215-2709
e-mail: contato@neuro.ufrn.br
Promoção: Pós-Graduação em Neurociências da UFRN (PGNeuro) e Instituto do Cérebro da UFRN (ICe)
Apoio: Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos – NEIP

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Nota de repúdio às falsas informações produzidas na matéria do jornal O Dia

Nota de repúdio à matéria “Saúde do Rio defende o uso da maconha”, do jornal o Dia, e a censura do prefeito Eduardo Paes ao livro “Toxicomanias: incidências clínicas e socioantropológicas” As entidades abaixo-assinadas vêm a público manifestar seu repúdio à matéria publicada na capa do jornal O Dia do dia 12 de maio de 2012, sob o título “Sugestão é plantar em casa – Saúde do Rio defende o uso da maconha” e à decisão do prefeito do Rio de Janeiro de retirar o livro do blog, o que configura uma ação clara de censura. A matéria sensacionalista distorce e ignora as informações e publicações contidas no Blog da Área Técnica de Saúde Mental da Prefeitura do Rio de Janeiro, deturpando o conteúdo do livro Toxicomanias: incidências clínicas e socioantropológicas, publicação da Universidade Federal da Bahia, organizada por Antônio Nery Filho, Edward MacRae, Luiz Alberto Tavares e Marlize Rêgo, de reconhecida importância acadêmica e profissional, para trabalhadores e pesquisadores das políticas públicas sobre álcool e outras drogas. Apresenta de forma descontextualizada e irresponsável aspectos abordados pelos autores relativos à estratégia de Redução de Danos, manipulando ou omitindo informações e cometendo erros factuais gravíssimos, sem se preocupar com os danos que poderia causar na relação de confiança entre aqueles que necessitam de cuidados e os serviços de saúde mental do município. A matéria se constitui como mais um ataque à Política de Redução de Danos, instrumento que embasa o cuidado e o tratamento oferecidos pela Saúde Pública aos usuários de álcool e outras drogas, debatido por mais de uma década com setores representativos da sociedade brasileira, aclamada na IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial e reafirmada como Política de Estado pelo Ministério da Saúde. A lógica da redução de riscos e danos constitui-se como instrumento legal em vários países além do Brasil, como Grã-Bretanha, Canadá e EUA, e é mundialmente adotada por vários setores Públicos, não apenas na atenção aos usuários de álcool e outras drogas ou portadores de doenças sexualmente transmissíveis, como em várias outras situações que envolvam a proteção da vida humana em situação de maior vulnerabilidade. Suas práticas estão fundamentadas por denso instrumental teórico e metodológico proveniente das ciências humanas e sociais. Movida por interesses escusos e obscurantistas, a reportagem do jornal O Dia parece servir a objetivos privados e moralistas, que vêm tentando com algum êxito, mas não sem resistências, se infiltrar no Sistema Único de Saúde e legitimar suas ações a partir da lógica de privação da liberdade, impondo-nos uma rede de Comunidades Terapêuticas e políticas de recolhimentos e internações compulsórias – em detrimento de uma rede de atenção psicossocial integrada, até hoje nunca verdadeiramente implantada na cidade do Rio de janeiro. Entendemos que este se trata de mais um episódio da guerra às drogas, de criminalização de usuários e da pobreza, e agora também de trabalhadores de saúde do município, que apesar da escassa rede de serviços de atenção psicossocial da cidade do Rio de Janeiro, vêm tentando imprimir práticas integrais de cuidado em saúde mental, em consonância com a política nacional e na contramão da lógica do choque de ordem que tem sido adotada neste Governo. A opção da prefeitura carioca, como se sabe, vem sendo pelas práticas de recolhimento e internação compulsórias em abrigos especializados e comunidades terapêuticas, escolhendo a repressão, o isolamento e a tutela aos usuários, em desrespeito às diretrizes das políticas públicas de Saúde e Assistência Social que vêm sendo reduzidas a meras coadjuvantes da ordem e segurança “públicas”. Desta forma, os abaixo assinados solicitam que a prefeitura reveja sua conduta em relação ao livro criticado na tendenciosa matéria citada, colocando-o novamente no Blog da Saúde Mental para acesso de profissionais, estudantes, pesquisadores e demais interessados no tema. Manifestam também repúdio ao modo como o órgão público se referiu aos seus ‘funcionários’ e a decisão de abrir investigação para descobrir responsáveis pela divulgação do livro na Internet, como consta na matéria “Prefeito manda investigar o blog da maconha”, de 12/05/12. O que se pretende com estas ações em resposta às falsas informações produzidas na matéria de O Dia? Em defesa do Blog da Área Técnica de Saúde Mental da prefeitura do RJ e de todos os espaços de divulgação e publicidade das ações em cumprimento das políticas públicas! Em defesa da divulgação do livro Toxicomanias: incidências clínicas e sócio-antropológicas e seus autores, assim como de qualquer outra publicação de caráter filosófico, científico, ou artístico, afinadas com os princípios da reforma psiquiátrica e da política de redução de danos. Em defesa da coerência dos gestores na implantação e manutenção das políticas públicas aprovadas em Conferências Nacionais, como a Política de Redução de Danos! Saúde não se vende, loucura não se prende! Assinam esta nota: Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ) Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia Justiça Global Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde Mental e Atenção Psicossocial – NEPS/UERJ – Faculdade de Serviço Social/UERJ Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro (CRESS-RJ) Grupo Tortura Nunca Mais/RJ Associação de Juízes para a Democracia (AJD) Movimento da Magistratura Fluminense pela Democracia (MMFD) Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH) Centro de Referência em Educação na Atenção ao Usuário de Drogas (CREAD-Sorocaba) Grupo de Pesquisa “Saúde Metal e Sociedade” (CNPq/UFScar) Núcleo Sorocaba da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) Fórum Permanente de Saúde no Sistema Penitenciário do Rio da Janeiro (FPSSP-RJ) Núcleo Interdisciplinar de Ações para a Cidadania (NIAC/UFRJ) Associação Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos (ABESUP) Movimento Nacional da Luta Antimanicomail – Núcleo Estadual do Rio de Janeiro Projeto Políticas Públicas de Saúde da Faculdade de Serviço Social/UERJ Centro Teatro do Oprimido (CTO) Grupo de Pesquisa “Ciências Humanas, Saúde & Sociedade” (CNPq) Departamento de Saúde Coletiva – UNIRIO Associação de Redução de Danos do Acre Associação Brasileira de Redução de Danos – ABORDA Associação de Mulheres do Acre Revolucionárias – AMAR Defensores Públicos em Movimento (DPMOV) Centro Brasileiro de Políticas sobre Drogas (PSICOTROPICUS)