Por Walter Hupsel . 18.02.11 - 18h04
Disponível em: http://colunistas.yahoo.net/posts/8820.html
Mais um passo foi dado em benefício da nossa saúde. A cidade de Nova York aprovou uma lei que proíbe o fumo em locais abertos e públicos, como o Central Park, a Times Square e nas suas praias. É um enorme passo em direção ao completo banimento deste vício.
A continuar nesta toada, em breve será proibido fumar no próprio carro, e, possivelmente, em sua própria casa. Assim, um pária fumante novaiorquino terá que cruzar a ponte pra cidade vizinha de New Jersey caso queira fazer uso do tabaco, ou alugar um bote e acender o cigarro no meio do rio Hudson.
A leis antitabaco me irritam, profundamente. Não porque seja fumante (querendo abandonar o vício), mas porque as pessoas simplesmente se acham no direito de impor a outras suas próprias condutas, pelo aparato coercitivo do Estado, sempre na falácia de agir em nome de todos e do bem comum.
Quem é contra o direito ao aborto acha que a lei deve proibir, tornar crime; quem é homofóbico acha absurdo duas pessoas do mesmo sexo trocarem afagos em locais públicos; alguns destes acham que tal “pecado” merece o apedrejamento! Agora, quem acha que devemos ser um protótipo de saúde defende o banimento da fumaça do cigarro…
Entendo bem que ninguém é obrigado a gostar de fumaça, e isso independe do ambiente. Mas gostar ou não é uma questão altamente subjetiva. Num paralelo, entendo que os conservadores, os religiosos ortodoxos, os canalhas se incomodem com dois homens se beijando. Sim! Se incomodar é um direito; a partir deste incômodo, pedir a proibição é o absurdo!
Também entendo que a fumaça do cigarro pode fazer mal às pessoas, aos “fumantes passivos” (que seriam aqueles que convivem o tempo todo com a fumaça alheia, e não o que vai ao Central Park – um dos maiores parques urbanos do mundo – e, por instantes, aspira uma fumaça dissipada no ar).
Em São Paulo, em vigor desde 2009, uma lei que tem apoio maciço da população proibiu o fumo em locais como bares, restaurantes e… tabacarias! Nem mesmo fumódromos hermeticamente fechados são permitidos. Isto revela a real intenção destas proibições. Elas não visam proteger o não fumante, o incomodado, mas tem por objetivo eliminar a figura do fumante!
Assim, o que existe por trás deste tipo de lei nada mais é que uma concepção moderna da velha dicotomia entre vícios e virtudes. Os vícios são entendidos, per se, como fraqueza de caráter, como algo a ser combatido e se possível eliminado. É isso e nada mais. A caça aos fumantes, aos obesos, a qualquer um que não esteja no padrão máximo do que se considera uma vida saudável, ou por que não dizer, virtuosa.
Quem, por qualquer motivo, está fora da mentalidade higienista e por vezes coloque o prazer acima de outros valores desta sociedade de controle merece a maior das punições: ser socialmente repreendido, colocado na categoria de pária, onde, outrora, estavam os leprosos.
Mas, em vez de provocar indignação e repulsa, este movimento é endossado pela maioria, sempre em nome do ideal de uma vida saudável e dentro das linhas. Afinal, assim como a tentativa de suicídio é crime, fumar também será.
E assim escancaramos as porteiras do controle dos corpos, domesticados, e como animais sem vícios, nos encaminhamos, voluntária e docilmente, para o abatedouro.
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