Espaço aberto àqueles que se interessam pelo fenômeno cultural do consumo de substâncias psicoativas e que queiram compartilhar informações relativas ao uso de drogas ou de plantas de poder. Bibliografias, perspectivas de estudo, construções epistemológicas, eventos culturais, científicos e experiências de pesquisa serão recorrentes nesse espaço de esclarecimento.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Novo Poder do Santo Daime. Reportagem do Jornal do Comércio
Recife, 17 de agosto de 2011 (Quarta – feira)
A série sobre projeto na área de neurociências no Rio Grande do Norte, de Verônica Falcão, aborda hoje estudos inéditos sobre o chá do Santo Daime e a epilepsia, além de levantar o debate sobre a ética em estudos com animais. Amanhã, o destaque será a ação na área de inclusão social. Depois de comprovar que o Santo Daime, chá usado em rituais religiosos, provoca visões, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) descobriram que a bebida também tem ação antidepressiva.
O estudo, em colaboração com a USP de Ribeirão Preto, analisou os efeitos da mistura em quatro pacientes adultos, de ambos os sexos. “Essa foi uma experiência piloto. Agora, vamos ampliar os testes clínicos para um numero maior de pacientes”, adianta o físico Dráulio Barros de Araújo, coordenador de pesquisa e integrante do Instituto de Cérebro da UFRN. O voluntários serão selecionados entre pacientes do Hospital Universitário Onofre Lopes, da UFRN, “No início de 2012, devemos começar a nova etapa de estudos”, adianta Dráulio. As pesquisas sobre os efeitos do Santo Daime no cérebro utilizam técnicas de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) e envolvem, ainda, equipe da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Como pretendem publicar os estudos em revistas cientificas, que exigem ineditismo dos dados, o pesquisador prefere não detalhar os mecanismos de ação do chá, também chamado de ayahuasca, como antidepressivo. Estudos anteriores indicam que o Santo Daime aumenta a liberação no cérebro da serotonina, neurotransmissor relacionado ao controle do humor. A bebida é mistura de folha do arbusto chacrona (Psychotria viridis) e do cipó mariri (Banisteriopsis caapi), espécies da floresta amazônica. A dimetriltriptamina (DMT) – principío ativo do chá – tem origem no arbusto. Mas é uma substância chamada betacorbilina, presente no cipó, que permite a absorção da DMT pelo organismo.
“A betacarbolina quebra, no nosso estômago, uma enzina que inibe a absorção da DMT”, diz o biólogo José Arturo Costa Escobar, que estuda o Santo Daime para sua tese de doutorado em psicologia cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). José Arturo analisa os efeitos da bebida no comportamento dos parcientes de rituais religiosos que fazem uso da ayahuasca. Por meio de questionários, ele tenta detectar sinais de transtornos com ansiedade e depressão. Resultados preliminares indicam que a depressão não é frequente entre os adeptos do Santo Daime. “Ainda estou tabulando os dados, mas é possível adiantar que os sinais da doença são raros, o que pode sugerir um efeito do psicoativo sobre a serotonina”, resume José Arturo.
Para Joaquim Souza Leão, diretor de um grupo religioso de Pernambuco que faz uso do chá, pesquisas como a da UFRN e da UFPE ajudam a desmistificar o Santo Daime. “Os estudos são positivos porque embasam cientificamente o que é relatado na prática”, diz o dirigente da Igreja do Céu de São Lourenço da Mata. Originalmente consumido pelos indígenas sul-americanos, o chá, segundo Joaquim, leva a uma dimensão espirutal. “O objetivo principal é o autoconhecimento, a busca pelo equilíbrio do corpo e da mente.” Os efeitos, que surgem de 30 minutos a uma hora após a ingestão da bebida, duram de quatro a cinco horas.
Controle de epilepsia com menos remédio
Portadores de epilepsia – síndrome neurológica que atinge 1% da população mundial – costumam tomar dois comprimidos por dia para evitar ataques. Pesquisas recentes do Instituto de Cérebro, da UFRN, no entanto, indicam que apenas um poderia ser suficiente. É que. E, 40% dos tipos da doença, os episodio ocorrem ao amanhecer. “Programando para a madrugada, por exemplo, seria possível ministrar apenas um comprimido, antes de dormir”, prevê o coordenador do trabalho, o biólogo Claudio Queiroz.
A principal vantagem em reduzir a dose, segundo ele, é minimizar os efeitos colatreirais de fármacos como a fenitoína, uma das mais usadas no tratamento de doença. Entre eles, a sonolência costuma encabeçar a lista. “Sentir sono durante o dia é um fator que compromete encabeçar a lista. “ Sentir sono durante o dia é um fator que compromete a vida social dos epiléticos. Imagine estar no trabalho ou na aula e não conseguir conter o sono”, detalha Queiroz. O pesquisador destaca que as epilepsias – manifestação clínica causada por uma descarga transitória, excessiva e anormal de células nervosas – que provocam ataques ao amanhecer são as originadas em distúrbios elétricos no lobo temporal. Localizado na parte lateral do cérebro, o lobo temporal é responsável pelo gerenciamento da memória.
Uma dose única à noite, destaca Claudo Queiroz, ainda não é uma recomendação médica. O que fizemos é pesquisa básica, que pode vir a ajudar na condução do tratamento. Os resultados se baseiam em estudos com ratos. No Laboratório, os Animais tiveram a doença induzida, para depois pesquisadores analisarem o cérebro. A equipe do Instituto do Cérebro verificou que os ataques são desencadeados por transições de estados cerebrais. “Um desses momentos é na passagem do estado do sono para o de vigília, ou seja, há mais probabilidade de ocorrer uma ataque epilético depois de uma noite de sono, quando o paciente acorda”, detalha o pesquisador. Cláudio Queiroz compara a administração diária dos dois comprimidos no tratamento da epilepsia ao uso de capacete, por quem anda a pé, para evitar traumatismo craniano. “A probabilidade de você cair e bater a cabeça no chão é tão remota que não justifica proteger a cabeça”.
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Viva!
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