quarta-feira, 12 de maio de 2010

Retrospectiva exibe 37 filmes de Jean Rouch


Por: ASCOM-UFPE

A obra de Jean Rouch, cineasta-antropólogo francês, famoso por seu trabalho sobre povos africanos, poderá ser vista pela primeira vez no Recife, entre 14 e 23 deste mês, no Cinema da Fundação. A mostra é uma realização do curso de Cinema da UFPE, a Associação Balafon (de Minas Gerais), com apoio do Ministério da Cultura, da UFPE, da Fundação Joaquim Nabuco e da Aliança Francesa do Recife.

O cineasta-antropólogo francês Jean Rouch é o mais importante realizador no campo do filme etnográfico. A mostra que chega ao Recife é comparável à realizada pela Cinemateca Francesa em 2009, com exibirão gratuita de 37 filmes do documentarista francês, entre longas e curtas, a maioria inédita no Brasil. Será uma oportunidade única para conferir títulos importantes como “A Pirâmide Humana”, “Pouco a Pouco”, “Crônica de um Verão”, “Eu, Um Negro” e “Jaguar”, além de outras obras menos conhecidas, mas igualmente fundamentais da trajetória de Rouch.

Sob a curadoria do mineiro Mateus Araújo Silva, os 37 filmes foram divididos em 17 programas. “Se muitos sabiam que Rouch é um cineasta fundamental e um africanista importante, pouquíssimos haviam tido um contato direto e efetivo com o conjunto de sua obra. Sua vasta filmografia, que aguardava uma retrospectiva ampla, agora é devidamente resgatada. Seus escritos numerosos, porém, ainda esperam a iniciativa de editores audazes para serem traduzidos entre nós”, destaca o curador.

Jean Rouch (1917-2004) atravessou o século como se vivesse sete vidas cheias de facetas e paradoxos. Ele foi ao mesmo tempo eminência parda do cinema francês moderno, antropólogo africanista com doutorado defendido na Sorbonne em 1952 sobre os Songhay, pesquisador do CNRS durante muitos anos e autor da obra mais importante de todos os tempos no campo do filme etnográfico. Como objeto privilegiado do seu trabalho, elegeu alguns países da África Ocidental (sobretudo Níger e Mali, mas também Costa do Marfim e Gana), dos quais nos deixou um acervo de imagens e sons sem paralelo. Mas também filmou muito na França e noutros países, revelando sempre, por onde tenha andado, curiosidade pelas diversas culturas e vontade de compreendê-las.

Seus filmes influenciaram a geração de cineastas da Nouvelle Vague e nos anos 60. Além disso, Rouch faz parte de uma vertente do documentário que ficou internacionalmente conhecida como "cinema verdade". Sua obra, diversas vezes premiada em Veneza, Cannes e Berlim, se compõe de documentários etnográficos ("Os Mestres Loucos" e "Sigui sintese"), sociológicos ("Crônica de um Verão") e ficções muito peculiares ("Eu, um Negro" e "Cocorico, Monsieur Poulet").

Rouch inovou o cinema técnica, ética e esteticamente. Procurou tratar seus personagens como sujeitos e não apenas objetos do discurso fílmico. Na sua visão, o desejo de investigação do filme etnográfico oferece um ponto de convergência entre a subjetividade do criador e a objetividade do pesquisador – ou, de outro modo, entre arte e ciência.

Em oposição a mestres da antropologia, como Claude Lévi-Strauss (para quem o registro cinematográfico era “como um caderno de notas, que não deveria ser publicado”), Rouch entendia o documentário etnográfico como uma forma de estabelecer um diálogo com o sujeito do seu estudo, em vez de apenas descrevê-lo. Esta mudança de paradigma seria, para Rouch, uma maneira de contribuir para que a antropologia deixasse de ser “a filha mais velha do colonialismo”.

Serviço:

Mostra Jean Rouch” em Recife – de 14 a 23 de abril, em horários variados, com copias em DVD legendadas, na Fundação Joaquim Nabuco – Rua Henrique Dias, 609, Derby. Entrada franca. Confirmar programação previamente: telefone (81) 3073.6689 e e-mail: cinema@fundaj.gov.br
Mais informações
http://cinepernambuco.wordpress.com/
http://www.flickr.com/photos/predestinos/

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