domingo, 6 de junho de 2010

Geni e o Zepelin (o doido, o Daime e o crime)

Por: Jaques Delgado

"Joga pedra na Geni...".
Você lembra da estória da prostituta que salvou a cidade, mas que foi de todo modo lapidada? Pois é, volto a um assunto delicado: as discussões e a repercussão sobre a morte de Glauco. Assim que soube os detalhes das notícias, menos de 24 horas após o ocorrido, meu primeiro pensamento foi direcionado à enxurrada de críticas que seriam lançadas à existência do Daime e à Reforma Psiquiátrica. Cada um foi buscando suas pedras, se armando de agressividade, cada um procurando a sua Geni, ora o culpado era o Daime, ora a lei de reforma que impede a internação dos loucos (!), ora o pai do assassino, que não cuidou do filho; pelo que andei lendo, alguém teve a ousadia de sugerir que o culpado da morte de Glauco e Raoni foi o próprio Glauco! Pasmém, a que ponto chegamos.

Improvisamente, depois da novela das 8 da Globo, todos nos transformamos em doutores, em psiquiatras. Ouvi delegados fazendo diagnóstico, parentes e advogados mais ou menos tarimbados, falando em surto psicótico, alucinação, jornalistas disparando leituras apressadas, repletas de jargões técnicos. Simples, não é?
Quantas pessoas que jamais beberam um copo de Daime, ou de Vegetal, isto é, de Ayahuasca, vomitaram condenações, críticas, julgamentos, embebidos de preconceito, moralismo, ideias que são tanto ingênuas quanto perniciosas.

Talvez para entender um pouco desta misteriosa substância será necessário beber um, dois, três, cem copos da bebida de gosto amargo, bebida sagrada para os povos da floresta e, vale lembrar, de uso permitido e regulamentado pelo próprio CONAD em rituais religiosos. Por quê insistir com a linguagem pobre e sensacionalista que fala de "droga", substância "alucinógena" ? Então, se ouço tais falas, posso concluir que o governo brasileiro autoriza e libera o uso de uma droga alucinógena... ou não?

Os estudiosos preferem a expressão 'substância enteógena', que significa manifestação interior do divino, ou seja, que permite ou possibilita a conexão com o sagrado. É diferente, radicalmente diferente! Sei que há recomendações no sentido de se evitar que um sujeito com determinadas características psíquicas beba o chá. Quem fala nisso? "Joga pedra na Geni..."

Quanto aos críticos da reforma da assistência psiquiátrica, é triste observar que ainda estamos neste estágio da discussão. Um articulista da Folha, falando em periculosidade, me faz pensar que a solução melhor para 'prevenir' a violência destas pessoas potencialmente perigosas é a internação compulsória e preventiva de todos, mas todos mesmo: loucos, usuários de substâncias psicoativas (maconha, cocaína, crack, daime, ecstasy, anfetamina, álcool...), moradores de rua, favelados (é muito perigoso morar em favela). Uma ideia ainda melhor seria a construção de um muro alto, bem alto, em volta de todas as favelas nas cidades do Brasil! Eu, por via das dúvidas, internaria também os policiais, que andam armados, podem atirar - isso é perigoso.

Colocaria dentro também os torcedores mais exaltados de futebol, os punks, os desempregados, pensando bem até os colunistas, porque suas opiniões podem ferir, podem ser perigosas. Ficariam de fora os intelectuais, a maior parte deles é inofensiva; os psicólogos e os psiquiatras (alguém precisa responder pelo diagnóstico). Minha companheira me recorda que um tal de Simão Bacamarte já havia proposto algo de semelhante... que pena! Queria ser original.

Neste drama que se consumou, um dos traços característicos foi a falta de atenção, a displicência, a surdez na captação dos sinais que uma pessoa em grave dificuldade transmitiu. Onde estava sua família? Para onde olhava? Agora é fácil jogar uma pedra, mas onde estávamos nós quando tudo aconteceu? Talvez cada um cuidasse do próprio jardim, ou do próprio umbigo, ou estivesse narcotizado pelo Big Brother da vez. Talvez. É muito fácil agora apontar o dedo, encontrar um culpado, escrever matérias sensacionalistas que vendem um mundo de jornais. Quem quer, de fato, refletir em profundidade? Se você quer, pode-se tentar uma discussão franca, honesta, nada oportunista.E se quiser, jogue uma rosa pra Geni.

2 comentários:

  1. Wagner,
    encontrei seu blog pesquisando por *xamanismo pernambuco*, me interesso bastante por enteógenos e até já experimentei alguns, porém pra quem não é "da área" da antropologia ainda rola um preconceito e sem um acompanhamento/indicação fica difícil "filtrar" o que é interessante ler, já li alguns livros de castañeda, li também as portas da percepção (fora as pesquisas constantes na internet). Ultimamente andei procurando o xamanismo mais no sentido de encontrar algun "centro de cura" do espirto por aqui por Recife e infelizmente não encontrei, em outras cidades já vi bastante mas não aqui.
    Você sabe de algum lugar onde eu possa encontrar isso que procuro? Gostaria não só de um "mestre/guia" mas também de pessoas com o mesmo interesse.. podes me dar seu email?

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  2. Olá Carol tudo bom? Que bom seu interesse pela temática. Pra falar a verdade conheço aqui em Recife apenas centros ayahuasqueiros: Daime, UDV e Sociedade Panteísta Ayahuasca, do doutor Barbier. Não sei se a ayahuasca é o que você procura, mas é um caminho de luz, um caminho bom na comunhão dessa bebida xamânica. Posso te passar algumas coisas para ler sim, a depender de seu interesse. Caso queira, podes pesquisar aqui mesmo no blog em postagens anteriores onde postei muitos livros virtuais, teses e dissertações no Scribd. Caso queira saber mais sobre ayahuasca, encontra-se postada aqui minha dissertação de mestrado que de dará um panorama geral, tanto institucional, quanto fenomenológico em relação ao consumo desta bebida. Meu email é o neoxamam@hotmail.com caso queira me contactar. Seja bem vinda ao nosso espaço. Luz, paz e amor...

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