terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lançamento do Livro "Antropologia Ciência e Arte Existencial; Uma Nova Epopéia", por Régis Alain Barbier



Está marcado para a próxima segunda feira (06 de dezembro na Livraria Saraiva, Shopping Center Recife às 19 horas) o lançamento do livro: "Antropologia Ciência e Arte Existencial; Uma Nova Epopéia", escrito por meu grande amigo ayahuasqueiro Régis Alain Barbier; o fundador da Sociedade Panteísta Ayahuasca. O livro é fruto de muitas discussões que tivemos sobre a obra do antropólogo Sul Africano Adam Kuper, em especial sobre o livro intitulado "A Reinvenção da Sociedade Primitiva, Transformações de Um Mito". Segue abaixo a resenha da obra. Vale a pena conferir...

Em Antropologia – ciência e arte existencial, estabeleço um diálogo com o antropólogo Sul Africano Adam Kuper oferecendo uma crítica e uma nova construção em reposta ao livro "A reinvenção da sociedade primitiva, transformações de um mito" (KUPER, Adam: A reinvenção da sociedade primitiva: transformações de um mito; Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2008) onde o autor desconstrói as teorias antropológicas, reduzindo buscas a simples jogos de interesses, negando o peso e valor político dos mitos. A antropologia não pode ser neutra; o antropólogo existe como estado-de-ser situado, inscrito numa cultura, marcado por impressões batismais. Para ser digno, o estudo antropológico deve reportar ao que é universal, coligado ao que é inerente e específico do Homo sapiente, sapiente: a capacidade de enxergar-se como estado-de-ser suspenso no eternal, apto a considerar as decorrências filosóficas atinentes a tal realização: uma nova epopeia.

No seu livro, A. Kuper desqualifica o mito, a sua natureza e valor essencial, ao acompanhar a orientação epistemológica da academia, discursando, a partir da posição mecanicista dos engenheiros, o comportamento de entidades dotadas de imaginação criativa, conscientes do seu estado existencial, com atuações sociais e civilizatórias tributárias de sonhos e visões, efetivamente, mais que de impulsos, demais determinismos e circunstâncias. Kuper postula que mito equaliza a ilusão, ou fantasia: para ele, os determinismos típicos da luta evolutiva e extensões societárias, junto com as superstições, talvez o acaso, manipulam os homens: os que advogam em favor de fatores ligados a ‘sangue e terra’ como determinadores de estruturas sociais são, genericamente, considerados observadores pragmáticos, empíricos, contudo, sujeitos a interesses partidários, sendo ‘românticos’ os que advogam coisas ligadas a formas religiosas. Para o autor Sul Africano, o mito não existe como descritor fenomênico fundamental das relações existenciais, com claros efeitos civilizatórios, sujeito a contemplação.

Para Adam Kuper as dimensões do ‘mito’ não passam de construções elaboradas e manipuladas por especuladores, ideias e fantasias a serviços de interesses privados ou sectários. P. 28, ibidem: “os antropólogos se ocuparam por mais de cem anos com a manipulação de um mito que foi construído por juristas e especuladores... uma maneira comum e de justificar a persistência de um mito é supor que este possui funções política”. Kuper (re)critica as teorias antropológicas clássicas, estudando os bastidores, mostrando possíveis subterfúgios interferindo nas buscas e advindo de interesses peculiares, tentando arrastar nessa desconstrução os entendimentos mais recentes, anticonformistas, narrando a redescoberta das relações fenomênicas entre o homem e natureza (“...a imagem da sociedade primitiva mais potente de hoje, em uma era de grande ansiedade sobre o meio ambiente” – p. 299, ibidem), sem notificar que opera a sua retórica e temas a partir de uma postura imaginada revestida de neutralidade, mas, resultante do modernismo, ponto histórico-cultural reativo, acomodado e conformado, como neurose de par, antítese funcional, vigente e acrítica, da teologia medieval, extensão latinizada e politizada dos tribalismos do oriente médio.

Tal estratégia insula e desconsidera o fenômeno religioso como determinante civilizatório necessário, porque decorrente de posicionamentos metafísicos e visões, i.e., de mitos: na atualidade, um mito específico, encastelados no tabernáculo das estruturas religiosas vigentes, incluindo a academia no seu compasso metafísico, senão político, dito ‘transcendente-transcendental’. Kuper desentende a imagem atual da sociedade primitiva: “hoje é o xamanismo a ser amplamente pensado como a religião original e natural. Um culto da nova era para o velho mundo, ele promete comunhão pessoal com o outro mundo...” p. 298, ibidem. O autor não considera que a formação de um sentido de unidade, com o outro e o cosmo, estabelece, indiscutivelmente, a essência da sapiência e o fundamento incontornável para a instauração de uma sociedade humana genuína[1], tampouco percebe que o ‘xamanismo’, num sentido profundo, não se refere a uma hipotética “comunhão com o outro mundo”, promessa típica do teísmo salvacionista, mas, sim, a um encontro com o essencial que unifica o divinal ao autor do conceito: a contemplação humana reconhecendo deus como Natureza.

Rebatendo os posicionamentos de Kuper, proponho reafirmo uma nova forma de pensar a antropologia: os fundamentos metafísicos, originando as vertentes míticas, são fenômenos primários e necessários da existencialidade, apicais como montanhas, derivando formações culturais e políticas cuja defesa implica escolhas fundamentais. Para ser digno, o estudo antropológico deve reportar ao que é universal, coligado ao que é inerente e específico do Homo sapiente, sapiente: a capacidade de enxergar-se como estado-de-ser suspenso no eternal, apto a considerar as decorrências filosóficas atinentes a tal realização: uma nova epopeia.


[1] Para Kuper o senso de unidade historicamente primordial, grego, foi forjado apenas quando as cidade´s-Estado isoladas se juntaram para enfrentar a ameaça apresentada pela Pérsia, sob o comando de Dario e seu filho Xerxes, nos primeiros anos do século V a.C.: ele simplesmente ignora a história da civilização jônica.

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