segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

" A gente vive assim, mas a gente precisa de uma luz”: As experiências religiosas das prostitutas que batalham na Praça do Diário - Recife -PE

Gente; compartilho com vocês uma dissertação em antropologia de Francisco Gleidson Vieira, que escreveu uma etnografia sobre as profissionais do sexo na Praça do Diário, defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco. O texto é bastante interessante, pois trata das nuances religiosas existentes entre as garotas de programa da localidade. O trabalho ainda traz algumas reflexões etnográficas sobre o uso de crack e outras drogas, mas não é o objetivo central da análise, entretanto a etnografia é enriquecedora no que tange ao entendimento da dinâmica social deste terirtório vulnerável e liminar no Centro da Cidade do Recife. A dissertação pode ser acessada no site: http://pt.scribd.com/doc/76068994/Experiencias-Religiosas-das-Prostitutas-da-Praca-do-Diario-Dissertacao-UFPE-Gleidson-2010

Abaixo segue o resumo. Espero que apreciem a leitura...

Este estudo se debruça sobre as experiências religiosas das prostitutas que batalham na Praça do Diário, localizada no centro da cidade do Recife-PE. O foco da análise recai sobre os significados que tais mulheres atribuem à dimensão religiosa em suas vidas. Para tanto, por meio da observação etnográfica no referido local, e de entrevistas com enfoque biográfico, investigou-se as matrizes religiosas que as informantes se sentem pertencentes, quais os sentidos, a partir das suas perspectivas, que suas religiões atribuem à carreira de profissional do sexo. Por fim, buscou-se perceber como estas mulheres articulam suas práticas profissionais com o sagrado. A hipótese que conduziu o trabalho de investigação vislumbrou a possibilidade das mulheres prostitutas possuírem algum tipo de relação com a Pomba-gira. Por instrumentalizarem o aspecto mais intocável das religiões cristãs, a carne, as mulheres prostitutas não encontram aceitação/legitimidade para as suas práticas profissionais/sexuais nas religiões cristãs. Nesta perspectiva, apoiando-me em Geertz, no que se refere à noção de religião como sistema cultural, a Pomba-gira, símbolo sagrado disponibilizado pelos panoramas das religiões afrobrasileiras, emergiria como modelo para situar e mesmo organizar as condutas das mulheres prostitutas diante no mundo. Paradoxos a parte, as religiões acentuadas pelas prostitutas entrevistadas estão inseridas no segmento evangélico pentecostal. Entretanto, por não se conformarem às normas de sexo/ gênero/ elas não se ligam formalmente a tais religiões. Articulam estrategicamente o que lhes é "conveniente", desligam-se da instituição e passam a pessoalmente transacionar com Deus. Concernente à Pomba-gira, a hipótese não pode ser totalmente refutada, visto que no cotidiano da Praça do Diário, em diferentes contextos, a menção à entidade se faz presente, o que pode ser interpretado, como sugere Otávio Velho, não simplesmente como recursos lingüísticos, mas atingindo as esferas das crenças de comportamentos pessoais.

Palavras-chave: religião, experiência religiosa, prostituição, sexualidade e gênero.

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