domingo, 11 de abril de 2010

Chico Xavier: o filme, o livro e suas experiências com ayahuasca

Por: Juarez Duarte Bomfim

Sociólogo e mestre em Administração pela UFBA. Doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha. Professor-adjunto do DCHF-UEFS. E-mail: juarezbomfim@uol.com.br

Jornal Feira Hoje: http://www.jornalfeirahoje.com.br/materia.asp?id=17000

Chico Xavier, o filme e o livro

Este anjo do Senhor viveu para a caridade e o amor ao próximo. A sua importância para o aprofundamento e difusão da doutrina espírita é indescritível.

Após séculos sem ir à cinema, contentando-me com o que o telecine me oferece, eis que inadvertidamente passo pela porta da sala de projeção, me vejo comprando caríssimo ingresso e, logo após, começa aquela viagem de emoções.

Falo do filme nacional baseado na adorável biografia de Chico, escrita pelo jornalista Marcel Souto Maior em 1994, revista e ampliada em 2003: “As vidas de Chico Xavier”, onde, ao lado de importantes dados biográficos do médium mineiro, narra divertidos e interessantes causos da sua vida – ou vidas.

Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) médium brasileiro, considerado o maior psicógrafo de todos os tempos (412 livros, 25 milhões de exemplares), nasceu em Pedro Leopoldo-MG, em 2 de Abril de 1910 e passou para a vida espiritual a 30 de junho de 2002, em Uberaba-MG, dia que o Brasil, feliz, comemorava o penta-campeonato de futebol. Foi embora assim num dia de alegria para o povo brasileiro – como ele desejava.

Este anjo do Senhor viveu para a caridade e o amor ao próximo. A sua importância para o aprofundamento e difusão da doutrina espírita é indescritível. As 16 obras da “Coleção André Luiz” – que inicia com o best seller “Nosso Lar”, mais os romances históricos do Espírito Emmanuel (“Há dois mil anos”, “Paulo e Estevão”...) colocam o nosso querido Chico no mesmo patamar de grandeza de Allan Kardec - o Codificador do Espiritismo.

A humildade foi um traço característico da personalidade de Chico Xavier: quando era aclamado como “porta-voz de Deus”, ele reagia se identificando como “uma besta encarregada de transportar documentos dos espíritos” ou, suavizando, dizia de si mesmo: sou “uma tomada entre dois mundos”.

E quando caravanas de fiéis e curiosos vindos de todo o Brasil o visitavam e levantaram dois milhões de assinaturas para indicá-lo ao Prêmio Nobel da Paz, Chico falava e repetia:

— Sou um nada. Menos do que um nada.

Se defendendo assim do excesso de assédio e para evitar a perigosa armadilha da vaidade. Aliás, vaidade que só cultivou em um período da sua vida — e vaidade estética: o uso de uma démodé peruca, abandonada na velhice.

Em relação a uma mania existente no universo espírita, de muitos indivíduos em encarnações passadas acreditarem terem vindo na pele de um nobre (um príncipe ou princesa) ou... o que é de pasmar... de um santo católico ou profeta bíblico... há um bem humorado causo narrado pelo Souto Maior:

“Uma vez, uma senhora chegou perto dele feliz da vida. Tinha feito uma descoberta.

— Fui mártir. Morri na arena devorada por um leão. E você Chico?

— Ah, eu fui a pulga do leão”.

Às vezes, cansado daqueles tantos heróis a sua volta, “como um ex-Napoleão, um ex-rei, um ex-apóstolo”... Ninguém abria a boca pra dizer: “fui um perdedor”... Chico não resistia a uma ironia:

— Eu, aqui, no meio dessas cabeças coroadas, com a cabeça decepada”.

Jesus perguntou certa vez aos seus discípulos: “Que estáveis vós discutindo pelo caminho? Mas eles calaram-se; porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior. E Ele, assentando-se, chamou os doze, e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos”. Assim foi Chico Xavier.

A vida desse missionário está diretamente entrelaçada, no invisível, com a do seu mentor espiritual, o Espírito Emmanuel, que lhe apareceu pela primeira vez em 1931, e perguntou:

— Estás mesmo disposto a trabalhar na mediunidade?

Para a resposta afirmativa de Chico, Emmanuel replicou que para tal era preciso trabalho, estudo e esforço na prática do bem. E os três pontos básicos para o serviço eram: disciplina, disciplina e... disciplina.

O Espírito Emmanuel ditou para Chico um dos seus mais conhecidos livros: “Há dois mil anos”, que narra a história do orgulhoso senador romano Publius Lentulus, que estava em missão em Jerusalém, designada pelo Imperador, quando da paixão e morte do Nosso Senhor Jesus Cristo.

Um pouco antes, o soberbo senador teve a graça de ter a sua filha Flávia curada de lepra pelo próprio Cristo. Porém, isso não o motivou a interceder pelo Messias junto a Pilatos. É um livro autobiográfico, uma vez que o prepotente senador é o mesmo Emmanuel, e especula-se que Flávia foi uma encarnação passada de Chico Xavier.

Ao longo de toda a sua vida, inspirado e guiado por Emmanuel, mesmo com a saúde frágil, Chico vai se desdobrar nas atividades profissionais de escriturário, na militância espírita e ainda arranjará tempo, roubado ao sono, de psicografar centenas de livros e milhares e milhares de páginas.

Há um saboroso causo com Chico Xavier e Emmanuel, narrado por Souto Maior, no seu tocante livro:

Num vôo de Uberaba para Belo Horizonte, o avião começa a trepidar com violência e parecia fora de controle. Os passageiros começaram a gritar, pedir socorro. Chico uniu-se ao coro:

“— Valei-me meu Deus. Socorro, misericórdia. Socorro, pelo amor de Deus. Tende piedade de nós”.

Um padre, a poucas poltronas de distância, reconheceu o desesperado e gritou:

“— O Chico Xavier está ali. Ele é médium, espírita, e está rezando conosco.

— Graças a Deus, padre, eu também estou rezando.

E continuou a berrar:

— Valei-me meu Deus”.

Após quase 20 minutos de gritos desesperados do famoso médium mineiro, Emmanuel entra no avião e fica horrorizado com a cena. O espírita mais importante do Brasil, defensor da vida depois da morte, estava em pânico diante da hipótese de morrer. Aproxima-se de Chico e pergunta o motivo de tanta gritaria.

— O senhor não acha que estamos em perigo de vida?

— Sim, estão, responde Emmanuel. Chico contesta:

— Se estamos em perigo de vida, eu vou gritar. Valei-me, socorro, meu Deus. Fazendo coro com os demais passageiros.

Emmanuel indignou-se:

“ — Você não acha melhor se calar? Dá testemunho da tua fé, da tua confiança na imortalidade”.

Chico defendeu seu direito de estar em pânico:

“ — Estou apavorado como todo mundo. Estou com medo de morrer como qualquer ser humano”.

Emmanuel perdeu a paciência:

“ — Está bem. Então, cale a boca para não afligir a cabeça dos outros com seus gritos. Morra com fé em Deus. Morra com educação”.

Quando Emmanuel virou as costas, Chico ainda resmungava:

— Quero saber como alguém pode morrer com educação...

Souto Maior nos conta mais uma interessante história: Chico Xavier estava bastante abalado e deprimido com a morte de um sobrinho. Daí que, em outubro de 1958, toma uma decisão surpreendente: iria experimentar o ácido lisérgico (LSD).

(O químico suíço Albert Hofmann havia sintetizado o LSD pela primeira vez em 1938 nos Laboratórios Sandoz em Basel, Suíça, como parte de um grande programa de pesquisa para a medicina. O LSD foi inicialmente utilizado como recurso psicoterapêutico e para tratamento de alcoolismo e disfunções sexuais. Pelas suas propriedades alucinógenas o consumo do LSD difundiu-se no movimento psicodélico mundial nos anos 1960-70 e nos meios universitários europeu, norte-americanos, hippies, grupos de música pop, ambientes literários etc. A proibição e criminalização do seu uso só ocorreu em 1966).

Chico perguntou a Emmanuel se ele poderia fazer a experiência com amigos de Belo Horizonte. O mentor se ofereceu para promover a “viagem”. À noite, Chico se sentiu fora do corpo, Emmanuel se aproximou dele, colocou uma bebida num copo e explicou: era um alcalóide capaz de produzir o mesmo efeito do LSD.

E então se deu a experiência de Chico Xavier com o chá ayahuasca. Assim consideramos devido a descrição que o autor faz da beberagem que é um alcalóide. O chá ayahuasca (daime/vegetal) é utilizado para fins religiosos no Brasil e autorizado pelo governo brasileiro.

Chico engoliu a bebida, um tanto amarga, e levou uma dura peia: “começou a se sentir mal, como se estivesse entrando num pesadelo. Animais monstruosos se aproximavam e cenas assustadoras desfilavam diante de seus olhos. Ele acordou com mal-estar. O sol parecia uma fogueira e o irritava, as pessoas o cercavam, desfiguradas. À noite, Emmanuel reapareceu com a lição transpessoal: o alcalóide refletia seu estado mental”.

Chico quis saber como recuperar a tranquilidade e escapar da resseca. Receita transmitida por seu mentor: oração, silêncio e caridade, para colher vibrações positivas.

“Chico seguiu as dicas à risca. Começou a visitar doentes pobres, a atrair bons fluidos e, durante cinco dias, trabalhou para se refazer. No sexto dia ele se sentiu melhor. À noite, Emmanuel voltou e propôs repetir a experiência com o mesmo alcalóide. Mesmo desconfiado, o discípulo concordou. O efeito foi surpreendente: a alegria profunda. Teve sonhos maravilhosos, visitou uma cidade de cristal, olhou para o céu como se fosse de vidro. Até a Fazenda Modelo (seu ambiente de trabalho) ficou deslumbrante. Os livros pareciam encadernados por safiras e ametistas, luzes saíam do corpo dos companheiros, das plantas e dos animais. Chico sentiu vontade de abraçar todo mundo. Ficou assim, em êxtase, quatro dias seguidos, em estado de alegria descontrolada, insuportável. Emmanuel apareceu com as explicações:

— Você está vendo seu próprio mundo íntimo fora de você”.

Outros surpreendentes casos são narrados no filme, um deles — que encerra o espetáculo — entrou para os anais da justiça brasileira: uma carta psicografada por Chico Xavier é arrolada nos autos de um júri popular, inocentando um réu de ter cometido um crime de homicídio.

Vejam o filme e leiam o livro

Ah se o Brasil tivesse outros Chico Xavier entre nós...

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